sexta-feira, 22 de novembro de 2013


                                                Devia ser, mas não fui.

Dos teus dedos apontados eu sei bem....Ah, os meus defeitos!São tantos né? Diversos, perigosos e insuportáveis. Meu tom de voz, meu jeito de organizar as palavras, meu ritmo agitado...Tudo te faz tão mal ,né? Incomodo.
  Minha gargalhada alta, a rapidez dos meus vocábulos, esse meu jeito apressado de sentir...
Tanta coisa que eu preciso mudar para agradar-te ...Para fazer bem aos outros, não é?
Que belo o teu tom de voz, sereno, calmo. Não diz sequer um palavrão, não ofende, não erra, sempre agindo bem...
 Devia eu me fazer presente só quando solicitares  minha presença, minha ajuda...Devia eu me calar sempre e constantemente..Devia eu ser diferente, oposto do que sou...
Devia eu mudar meu jeito de falar, meu jeito de dizer, de sentir, transmitir e pensar...
Devia eu andar por outros caminhos, enxergar outras cores...
Devia eu  desbotar o meu sorriso largo, desfazer minhas palavras de incentivo, recolher minha mão estendida, fechar os meus olhos cuidadosos, afastar os meus ombros...
Devia eu me afastar, e mudar...
Tentei mudar aos poucos, ir melhorando, amadurecendo, enquanto reservo espaço para o amor e a aceitação que devo nutrir , mesmo que tu, que os outros sejam o oposto de mim...tenho que entender, cada um é de um jeito...só o meu jeito é que precisa ser revisto, refeito, transformado em algo inverso, são os meus defeitos grandes demais...Não é?
Sou eu que não me enquadro nas exigências, ou mudo, ou não me torno digna do vosso afeto...
O amor é assim  aponta, cobra, compara, culpa, estabelece regras, condições, pré-requisitos, faz processo seletivo e só depois de todos os testes, de avaliações rigorosas ele então decide nos admitir ou não na  função de amiga, irmã, filha, namorada...
É eu devo mudar também esta minha mania feia de achar que o amor a gente sente , doa, cultiva e vai usando ele para ajudar, apoiar, ensinar, entender, aceitar aqueles seres cheios de defeitos, bem diferentes da gente, mas que fazem o melhor que podem , mesmo nos parecendo tão pouco..
Melhor eu me adiantar , e mudar rápido, de um instante pro outro, sozinha.. Porque se eu demorar o amor se cansa e vai logo procurar alguém fácil e simples de amar..
Porque amar gente complicada e imperfeita é coisa que não se faz.

sábado, 21 de janeiro de 2012

ASFALTO VERMELHO                                                                                                                                                                                                                                                  Olho pela vidraça e vejo o vermelho vivo das flores do flamboian da casa ao lado. Um vermelho marcante que hipnotiza...esse vermelho fica marcado na minha retina, povoa minha rotina. 
     Saio de casa, andar um pouco, percorrer vazios. Retorno, lá está a explosão de flores vermelhas, ocupam quase que a copa inteira da árvore. Lindas, delicadas, algumas caem ao sabor do vento e vão tingir de vermelho o asfalto, como um tapete de desejos...Por alguns instantes paro e observo, tentando apreender cada detalhe, queria poder registrar em vídeo para rever  cada vez que sentisse vontade.

Vontade de sentir mais admiração  por cada uma daquelas milhares de flores, que conseguem ser tão imponentes. Majestosamente se apresentam ao mundo numa simplicidade de formas encantadoramente envolventes.

São frágeis, logo fenecem , algumas pétalas ficam no telhado, mas o vermelho hipnotiza, marca. Ah , o vermelho! O vermelho que tinge o asfalto de magenta existência e vai me chamando para andar na rua, nos  caminhos dentro de mim , construindo pontes banhadas de lágrimas e ladeadas por sorrisos e abraços.

Entro em casa , me sento na cama . Uma vontade imensa de escrever me toma. É o que faço. Escrevo. Sentimentos represados no peito. O celular que não toca,  a voz que não explica , mas a mente que tece dezenas de justificativas para o silêncio do outro. Os dias que passaram e não levaram as mágoas  junto com eles .

Não sei ao certo se é aqui dentro de mim ou se o mundo está ficando preto e branco, desbotando-se em cinzas.

Sobra apenas o vermelho sobre o asfalto negro do meu caminho de desejos que já não sente mais passos, meus pés já não alcançam a velocidade da fuga das esperanças que se distanciam e levam consigo o verde que coloria o amor que parecia prestes a entrar  por aquela porta.

A porta que encerra minha casa , fechada, trancada à chave, duas voltas. Quero a segurança dum canto qualquer, o esconderijo de palavras não ditas, de olhos cerrados e lábios mudos.

Quero o sepulcro de toques não repetidos, de corpos distantes e dores próximas, quero a nudez de lágrimas adiadas e sorrisos desfeitos.

Quero  olhar pela vidraça do banheiro, ver o vermelho das flores, mas não ter que ir a rua, não andar descalça e ferir meus pés novamente, manchando de vermelho o negro asfalto da minha realidade.

(Paula Milena, Salvador, 19 de dezembro de 2011)

                                      
   

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Deixarei de sentir.


Não sei ao certo se o que sinto por ti agora... Se é raiva , repulsa , saudades eu senti um dia...agora não mais. .. Quero não te encontrar outra vez... Não ter que olhar a tua face , nem ouvir tua voz...Tanto eu quis tua companhia ...teu carinho ...mas  agora não adianta mais...
   Só quero estar longe de você e te todo o mal que me causaste... Fui  em  quem descontaste teus problemas... Em que despejaste a raiva do que quer que fosse... Quando estavas feliz pediste para ficar longe... Mas tão logo precisaste fazer passar o tempo ocioso automaticamente lembrastes  da minha existência ... Não sei se é inveja que sinto de quem está ao teu lado... De quem tem de ti tudo o que mais quis um dia... Ou é orgulho ferido... Ou ainda resquícios da minha insegurança... Ou alguma sobra do que senti um dia... Ou os fantasmas das palavras cruéis que usaste para me definir...Seja como for almejo pelo dia que não mais me lembrarei de ti ..que teu rosto não estará na minha memória ...Que quem te acompanha não me importará... Um dia quando nada mais sentir ..quando tu fores tão insignificante pra mim ..como pra ti sempre fui...Neste dia poderei te encontrar ...só não garanto que irei te reconhecer ...talvez eu passe por ti e nem note ...minha vida segue ... E tudo que eu desejei receber de ti ,talvez tenha chegado junto com alguém que viu em mim todo o valor que você em tanto tempo e tantas oportunidades não conseguiu perceber ..Cego no seu narcisismo e embevecido na sua megalomania...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Dois estranhos ...apenas somos.

Numa manhã dessas acordei decidida a desfazer qualquer tipo de laços que nos mantivessem ligados, foi quando me dei conta que nunca houveram ligações entre nós.Nada que fizesse de nós seres com qualquer tipo de relação afetiva que fosse...dois estranhos erámos, somos e seremos sempre ....Não sei nada a teu respeito e tu nada sabes ao meu ...Nomes nada dizem..idades nada concretizam....São os sabores e dissabores diariamente compartilhados que  fazem os laços se estreitarem...
Talvez eu devesse negar minha curiosidade em relação ao teu mundo, ao teu cotidiano..mas não, admito quis muito saber sobre ti...mas não me deste permissão ..na tua vida não me coube espaço algum... Amizade foi algo que não tiveste pra mim oferecer...nem qualquer outro tipo de afeto ..O teu olhar sempre me atravessou, vistes as coisas através de mim, como se eu não existisse...
JAMAIS houve interesse teu em saber a meu  respeito, tive sempre  pouco valor segundo teus critérios, rigorosamente valor algum...O tempo foi passando ..a porta esteve sempre cerrada diante dos meus olhos.. o desejo de adentrar o  recinto em que vives foi se desfazendo dentro de mim...o admirar cedeu lugar as mágoas e ofensas repetidas... O espelho me mostrou a mais pura verdade ..as palavras lidas ecoavam insistentemente ...A crueldade das expressões e a frieza de atitudes...Os atos implantados no mais puro sarcasmo...O deboche  escancarado ...Tudo tomou forma...persnonificaram-se diante de mim...e passaram  a me apontar, acusar...a evidenciar o papel ridículo que eu havia assumido até então...
O dia continuou a passar e a vontade de me afastar só aumentava ..a noite chegou e  sinais teus eu percebi...E nada havia mudado, o mesmo deboche, o mesmo desdém e a mesma ausência de estima...Ali a mesma indiferença se erguia sólida e imutável...Ali os ventos sopraram e me levaram pra  mais longe, mais longe ...As  palavras não podem ser resgatadas ..uma vez ditas deixam de nos pertencer  e vão habitar os corações dos que as ouviram...
Quando são palavras doces ajudam,acalentam ,aproximam...Quando são duras, frias ...afastam, magoam, marcam e entristecem....Eu ouvi cada uma que me direcionaste, quis esquecê-las mas não obtive êxito..cada uma fez sua moradia aqui dentro e me servem para nunca esquecer como o teu olhar me atravessa...
NÃO conseguiria olhar em teus olhos, a vergonha que sinto de mim mesma, dos meus atos, das minhas palavras ...a vergonha que sinto congelariam as palavras em minha garganta ..nada conseguiria dizer, balbuciaria palavras desconexas..cabisbaixa, olhando o chão ...fazendo preces pra que o tempo passasse logo ..rápido e me levasse pra bem longe de ti ..do teu olhar ...
A pequenez que a tua presença me causa , me angustia deveras...A ausência de significados que me enumeras me afastam mais, mais e mais ...O deboche e o sarcasmo que subitamente voltaram a cena me assustam, me fazem dizer coisas que eu preferia que nunca soubesses, não desejei que soubesses sobre mim ..sobre meus passos ...Onde ando agora..queria que continuastes a ignorar tudo e qualquer detalhe sobre mim...A frieza de atos calculados pra ferir, pra humilhar ainda me apavoram...
 Quero o carinho dos que se importam comigo, o sorriso dos que me desejam por perto, o abraço dos enxergam em mim algo mais que  uma caixa vazia...Almejo a presença dos que me conhecem, dos que me estimam ...Os estranhos que em tão pouco tempo se tornaram amigos, que me cativaram, que se deixaram conhecer ...que me olham e não me atravessam,antes disto me enxergam ...Os olhares deles não me atravessam...Sou vista , tenho importância, valor , significado ...é assim que gosto de me sentir: bem-quista...
      Não te desejo mal, pelo contrário ...toda felicidade que mereces, faço preces profundas e sinceras para que alcances...A companhia dos que te estimam e são por ti estimados ...as vitórias que lutas para obter..Desejo o melhor , tudo de mais belo e iluminado ...como desejo a todos os que me são de grande valor....Aprendi que por mais que eu deseje ofertar um presente houverão aqueles que o rejeitarão ...ou simplesmente  o julgarão inútil..e a ti nada de mais precioso há para ofercer que minha ausência , que tanto  te agrada ....
E assim vou andando, em outros lugares ..com antigas e novas companhias que me quiseram por perto...A estranha que sempre serei para ti...mais longe ...cada vez mais longe  , para o teu deleite..esse é o melhor presente que tenho pra te ofertar...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O lago..

 
   “Passeando as margens de um lago vi que o sol imprimia minha sombra nas águas. Aproximei-me e vi o meu rosto refletido... Sorri e fui agraciada com o sorriso da jovem dentro d’ água...
 Era eu mesma, ali fazendo parte daquele lago, daquelas águas... me senti importante ,especial ,ao menos por um instante ..Dei-me conta  que tão logo eu me afastasse do lago, minha imagem se dissiparia e nada de mim ficaria ali ...
  As águas continuariam as mesmas, as mesmas ondulações, nada mudaria, nem um resquício meu sobraria... Senti meu coração  apertar  e as lágrimas  desejarem cair após  tal  constatação ...Fui  forte, resisti ...me afastei do lago ..virei as costas e segui meu caminho ..As  lágrimas caíram ...Mas não  fraquejei...
     Andei como se nada houvesse atrás de mim... Mas  o meu coração  doía  muito ...
     Assim sou eu em relação a ti. Minha  presença às tuas margens nada modificaram , as ondulações nas tuas águas continuam as mesmas ..A minha sombra  só impedia que o sol te iluminasse completamente.
   Ao me afastar, trouxe comigo a minha sombra e minhas dores... A ilusão de fazer parte do teu mundo  se desfez completamente .Ali  tu continuaste  indiferente ,impassível ,alheio a mim e tudo que sou ...
    Continua o teu caminho, o teu balançar de águas, como sempre foi... Seguirei  sem olhar  para trás e nada ficará de mim em tuas águas ...Nada ...Minhas dores eu carregarei , enquanto eu vejo minha sombra pelo  caminho...tocando o chão ...sem  nada mudar ...Apenas eu mudei,já não sou mais a jovem que sorria  a beira do lago..Já não tenho as antigas ilusões ...A ti  devo tudo isto!Obrigada! Por empurrar-me para o precipício do amadurecimento. Obrigada ! A tua indiferença ,me fez quem sou agora ...Obrigada !
                            (Paula Milena16 de março 2011)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Corrente Prateada

Sentei-me no banco, esperando a aula de culinária continuar... E correndo meus olhos pelo ambiente, com o pensamento longe notei um pedaço de corrente no banco ao lado... Peguei e comecei a brincar com ela entre meus dedos... Um pedaço pequeno... Elos ovais (comuns) num metal prateado... Mas havia três elos diferentes e circulares... Que mudavam o desenho linear da corrente... Faziam diferença e destacavam-se entre os outros elos iguais... Então percebi que assim também é nossa vida... Um corrente de acontecimentos e afeições entrelaçadas... Continuei brincando com a corrente, passando os elos das extremidades um por dentro do outro e por vezes passando toda a corrente por dentro do “último” elo e nada mudava, a corrente continuava a mesma... Simples... Aí me dei conta que na sua vida não sou nenhum dos elos, ou talvez eu seja o último... Por onde todos os outros passam e nada muda... Nenhuma diferença se percebe... E mesmo que esse último elo seja retirado... A corrente continuará a mesma... E eu terei passado em sua vida sem deixar vestígios...
Não há nada em mim que te desperte admiração, nada que te faça sentir saudades, nem que te faças julgar-me especial... Não há nada em mim que te sirvas de acréscimo... Nunca farei parte da tua vida. Serei sempre uma estranha, sem importância, sem nenhum significado... Se aqui eu estiver ou do outro lado do mundo... Se feliz ou triste... Viva ou desencarnada... Não fará diferença... Tua vida seguirá normalmente, sem mudança alguma.
   Já tens o elo circular que faz toda a diferença... O elo especial, importante... Que muda tua vida... Logo a distância geográfica entre nós será ainda maior... Talvez cresça cada vez mais... Mas é a distância emocional que representa mais do que tudo... A distinção de mundos e destinos... Nunca saberás quem sou... O que guardo, o que sinto, muito menos o que sonho... Por que nunca desejastes?!?
   Minha corrente se tornará maior, outros elos serão unidos aos que agora existem... Mas temo que em algum momento ela se rompa... Justamente entre mim e o elo vizinho... Temo que ela revele a ligação frágil que fiz com o elo seguinte na esperança de que a ti pudesse ceder aquele lugar e ter finalmente junto a mim o Elo circular que eu tanto desejei...
  Mas não será assim... Minha corrente seguirá com elos ovais, comuns em metal prateado... Até onde meus passos irão?!? Ainda não sei... Quero ir pra longe... Tão longe que meu coração não ouça teus rumores... Talvez assim consiga calar eternamente essa voz que murmura diariamente dentro de mim... Quero um lugar onde meus olhos nada vejam que possam de ti recordar... Quero a frieza de novos horizontes... A aridez de novos caminhos... O sol escaldante dos desafios... Quero o frio cortante do desconhecido... O eco amedrontador do lugar novo...
   Longe, bem longe... O mais longe possível, quero estar assim... Distante... De ti, de tudo... Quem sabe assim eu consiga polir minha corrente prateada e impedir que a ferrugem e o sal das minhas lágrimas corroam o metal dos meus elos de sentimentos...
  Longe estarei, bem longe... Eu e minha corrente prateada...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O melhor de mim ...

Hoje acordei especialmente triste , corrompida pela dura certeza de estar só ...Falo de estar só ,sem alguém que compartilhe dos meus sentimentos mais doces e íntimos...Alguém que possa ver coisas boas em mim , que sinta coisas especiais por mim , que queira me conhecer cada dia um pouco mais...
    Alguém que me queira fazer carinho ,me proteger , me dar colo ..Que seja capaz de perceber que nos momentos que mais pareço forte e auto-suficiente é quando mais preciso de apoio...Quero alguém que veja além dos meus defeitos e imperfeições..Alguém que veja beleza em mim ..Quando nem eu mesma enxergar ...
   Alguém para andar de mãos dadas comigo... Para me fazer cafuné , conversar comigo num abraço sem pressa para terminar ..Alguém pra me fazer rir ..até de mim mesma...Alguém pra apertar a minha mão e me fazer sentir segurança ..Alguém pra quem correr quando tudo parecer perdido ...
  Mas não quero alguém só pro momentos tristes , e difíceis...Quero alguém para quem dar presentes singelos , para quem mandar doces mensagens..Alguém pra quem me perfumar ...arrumar-me inteira só para um passeio na pracinha....Pra quem dizer coisas bonitas , a quem fazer cafuné em tardes chuvosas ...e tomar banho junto em dia de calor...Com quem viajar pro fim do mundo e ainda assim achar o lugar mais bonito que exista ...
    Trocar segredinhos bobos , fazer as pazes depois de um mal-entendido ...Dar bombom de presente ...pedir uma massagem nos pés depois de um dia cansativo....Oferecer colo quando nada mais puder ajudar ...Não quero um príncipe encantado , nem um homem perfeito...Não acredito em lendas....
    Quero um ser de carne e osso ..humano , imperfeito ...passível de erros e enganos...Um homem real e comum , mas que tenha um jeito único de me fazer arrepiar ...E que seja capaz de entender esses sentimentos rejeitados que trago aqui no peito e que me fazem chorar enquanto escrevo . Quero alguém para quem oferecer tudo que hoje tenho que guardar...O melhor de mim....