Sentei-me no banco, esperando a aula de culinária continuar... E correndo meus olhos pelo ambiente, com o pensamento longe notei um pedaço de corrente no banco ao lado... Peguei e comecei a brincar com ela entre meus dedos... Um pedaço pequeno... Elos ovais (comuns) num metal prateado... Mas havia três elos diferentes e circulares... Que mudavam o desenho linear da corrente... Faziam diferença e destacavam-se entre os outros elos iguais... Então percebi que assim também é nossa vida... Um corrente de acontecimentos e afeições entrelaçadas... Continuei brincando com a corrente, passando os elos das extremidades um por dentro do outro e por vezes passando toda a corrente por dentro do “último” elo e nada mudava, a corrente continuava a mesma... Simples... Aí me dei conta que na sua vida não sou nenhum dos elos, ou talvez eu seja o último... Por onde todos os outros passam e nada muda... Nenhuma diferença se percebe... E mesmo que esse último elo seja retirado... A corrente continuará a mesma... E eu terei passado em sua vida sem deixar vestígios...
Não há nada em mim que te desperte admiração, nada que te faça sentir saudades, nem que te faças julgar-me especial... Não há nada em mim que te sirvas de acréscimo... Nunca farei parte da tua vida. Serei sempre uma estranha, sem importância, sem nenhum significado... Se aqui eu estiver ou do outro lado do mundo... Se feliz ou triste... Viva ou desencarnada... Não fará diferença... Tua vida seguirá normalmente, sem mudança alguma.
Já tens o elo circular que faz toda a diferença... O elo especial, importante... Que muda tua vida... Logo a distância geográfica entre nós será ainda maior... Talvez cresça cada vez mais... Mas é a distância emocional que representa mais do que tudo... A distinção de mundos e destinos... Nunca saberás quem sou... O que guardo, o que sinto, muito menos o que sonho... Por que nunca desejastes?!?
Minha corrente se tornará maior, outros elos serão unidos aos que agora existem... Mas temo que em algum momento ela se rompa... Justamente entre mim e o elo vizinho... Temo que ela revele a ligação frágil que fiz com o elo seguinte na esperança de que a ti pudesse ceder aquele lugar e ter finalmente junto a mim o Elo circular que eu tanto desejei...
Mas não será assim... Minha corrente seguirá com elos ovais, comuns em metal prateado... Até onde meus passos irão?!? Ainda não sei... Quero ir pra longe... Tão longe que meu coração não ouça teus rumores... Talvez assim consiga calar eternamente essa voz que murmura diariamente dentro de mim... Quero um lugar onde meus olhos nada vejam que possam de ti recordar... Quero a frieza de novos horizontes... A aridez de novos caminhos... O sol escaldante dos desafios... Quero o frio cortante do desconhecido... O eco amedrontador do lugar novo...
Longe, bem longe... O mais longe possível, quero estar assim... Distante... De ti, de tudo... Quem sabe assim eu consiga polir minha corrente prateada e impedir que a ferrugem e o sal das minhas lágrimas corroam o metal dos meus elos de sentimentos...
Longe estarei, bem longe... Eu e minha corrente prateada...