sábado, 14 de agosto de 2010

No fim do baile...só lágrimas.

  Estou entrando  em casa na ponta dos pés para não acordar ninguém ..são quase quatro da manhã....no  meu quarto, tiro os sapatos de salto  e sinto o piso frio através das meias ...percorro o caminho até o sofá da sala na penumbra ..me deito agora livre do blazer também...ainda estou sem sono...
    Vestida com as minhas meias de seda,  minha saia e  meu espartilho negro;  olho o teto e lembro de como foi a noite com meus amigos....abraçada a uma das almofadas sorrio lembrando os instantes mais engraçados...mas de repente o riso se desfaz .... aqui me sinto só, e os meus pensamentos me remetem a  tudo que tenho passado nos últimos tempos..
   É  aqui nesse silêncio,  onde me encontro agora,  que vejo a realidade na face mais cruel que ela tem...é aqui,  neste sofá que a encaro e sinto o desperatr da minha tristeza ...Por mais que eu lute ...não dá pra esconder de mim mesma o que  insito em disfarçar de todos..
    Sinto o meu peito apertar ...as lágrimas querem brotar,  mas as impeço de cair e elas rolam dentro de mim ..molhando meu coração ..o mais profundo do meu ser ...minhas mãos estão tão frias. ..minha garganta tão seca...a sensação de abandono toma conta de mim....
    Me sinto uma tola ..Como posso ainda lembrar de alguém que me causou tanta tristeza?!?!Como posso ainda lamentar pelo que não vivemos?!?!Se tudo que vivemos não significou  nada ...na verdade não houve nada.Nada vivemos ....A beleza da história existiu só na minha cabeça..Na verdade só existiu história: na minha cabeça....Tudo não passou de acasos desagradáveis que prorrogam algo que nunca devia ter começado....
    Como a pista de  dança da vida nos leva   a sofrer tombos tão perigosos?!?Somos convidados a dançar uma simples música e aceitamos....a  companhia parece agradável ...e vamos nos deixando levar ...dançamos outras e outras músicas, conversamos ameninades,  compartilhamos sorrisos amistosos,  trocamos palavras fortuitas e esquecemos  as pessoas em volta...Tudo parece bom...divertido ...e num piscar de olhos tropeçamos e vamos ao chão  ...Só o que resta agora são os machucados consequentes da falta de atenção ...A música era tão envolvente ...os braços pareciam tão acolhedores que esquecemos que o baile teria fim...e logo ouviriamos  as vozes enlouquecedoras do mundo real...
     Se eu tivesse declinado o convite para aquela contradança ..talvez agora eu não estivesse a procura de remédios para os minhas feridas ...Mas parecia tão alentador dançar com um desconhecido na  noite que sai de casa pra esquecer ...Era só isso que eu queria naquela noite: esquecer.Dançar e esquecer.
    Mas desde aquela noite a única coisa que consegui foi lembrar: de cada instante, de cada  conversa,  de cada detalhe, de cada música, tudo tão bom... E agora lembro de cada palavra dura, de cada frase fria e cada afirmação  cruel...de um desfecho  triste para um baile que parecia antes tão duradouro...
   Em público hoje fui a amiga que sorria, a mulher que dançava, a garota que conversava...Mas aqui,  no meu mundo real,  sou a menina que chora ...quieta, tímida,  solitária. ..A menina que chora os seus desenganos ... as suas lembranças...A menina que saiu uma noite pra esquecer ,  porém trouxe de volta coisas das quais vai sempre lembrar ...
   Um dia desses , talvez eu volte ao baile, talvez até aceite outro convite pra dançar ...ou decline ..ainda não sei ...Até lá vou curando os meus machucados ...Mas hoje não quero mais músicas ...Quero o som ensurdecedor da realidade ....Quero andar observando o chão...
   Dançar?!?!Não, obrigada..Vou me retirar em instantes ...Chegou meu momento de ir pra casa ,  meu momento de dormir....e tenho que andar , andar muito...Passos  largos, olhar atento ,  examinando o caminho ...Percorrendo  só as ruas conhecidas ...Não quero demorar para chegar  ....
    Quer saber sobre a menina que dançou contigo no outro baile??Ah!Ela agora já não dança mais ...nem vai a bailes.Ela fica em casa ..Tem medo , não quer cair ...
               e o coração dela não quer mais tropeçar.
    

    

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