sábado, 21 de janeiro de 2012

ASFALTO VERMELHO                                                                                                                                                                                                                                                  Olho pela vidraça e vejo o vermelho vivo das flores do flamboian da casa ao lado. Um vermelho marcante que hipnotiza...esse vermelho fica marcado na minha retina, povoa minha rotina. 
     Saio de casa, andar um pouco, percorrer vazios. Retorno, lá está a explosão de flores vermelhas, ocupam quase que a copa inteira da árvore. Lindas, delicadas, algumas caem ao sabor do vento e vão tingir de vermelho o asfalto, como um tapete de desejos...Por alguns instantes paro e observo, tentando apreender cada detalhe, queria poder registrar em vídeo para rever  cada vez que sentisse vontade.

Vontade de sentir mais admiração  por cada uma daquelas milhares de flores, que conseguem ser tão imponentes. Majestosamente se apresentam ao mundo numa simplicidade de formas encantadoramente envolventes.

São frágeis, logo fenecem , algumas pétalas ficam no telhado, mas o vermelho hipnotiza, marca. Ah , o vermelho! O vermelho que tinge o asfalto de magenta existência e vai me chamando para andar na rua, nos  caminhos dentro de mim , construindo pontes banhadas de lágrimas e ladeadas por sorrisos e abraços.

Entro em casa , me sento na cama . Uma vontade imensa de escrever me toma. É o que faço. Escrevo. Sentimentos represados no peito. O celular que não toca,  a voz que não explica , mas a mente que tece dezenas de justificativas para o silêncio do outro. Os dias que passaram e não levaram as mágoas  junto com eles .

Não sei ao certo se é aqui dentro de mim ou se o mundo está ficando preto e branco, desbotando-se em cinzas.

Sobra apenas o vermelho sobre o asfalto negro do meu caminho de desejos que já não sente mais passos, meus pés já não alcançam a velocidade da fuga das esperanças que se distanciam e levam consigo o verde que coloria o amor que parecia prestes a entrar  por aquela porta.

A porta que encerra minha casa , fechada, trancada à chave, duas voltas. Quero a segurança dum canto qualquer, o esconderijo de palavras não ditas, de olhos cerrados e lábios mudos.

Quero o sepulcro de toques não repetidos, de corpos distantes e dores próximas, quero a nudez de lágrimas adiadas e sorrisos desfeitos.

Quero  olhar pela vidraça do banheiro, ver o vermelho das flores, mas não ter que ir a rua, não andar descalça e ferir meus pés novamente, manchando de vermelho o negro asfalto da minha realidade.

(Paula Milena, Salvador, 19 de dezembro de 2011)

                                      
   

Um comentário:

  1. Muito bom o seu texto, e de repente me lembrei das poesias do seu pai. Posso estar equivocada, mas acredito q vc herdou esse talento com as palavras.

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